11 de janeiro de 2009

O Cheiro do Amor

Fazia pouco tempo que eu havia sido transferido de cidade e pela primeira vez eu passaria um aniversário junto com minha nova equipe de trabalho.

Como em todos os nove de maio, acordei muito feliz, vibrante, leve e com a doce sensação de mais um ano bem vivido e com o desejo de no mínimo manter a felicidade em que me encontrava por mais muitos anos.

A lembrança dos amigos só alimenta cada vez mais esse sentimento de alegria. A minha esposa, claro, foi a primeira a me dar os parabéns. Preparou um belo café da manhã com o bom e velho sanduíche de manteiga e foi até a porta comigo quando saía para o trabalho. Pouco a pouco os familiares e os velhos amigos começaram a ligar e eu me sentia cada vez mais amado, exceto pelo fato de ninguém da minha nova equipe haver lembrado.

Durante o dia inteiro, nenhum sorriso diferente, nenhuma pequena manifestação ou, pelo menos, algo que deixasse escapar uma festinha surpresa no final do expediente. Nada. E eles sabiam do meu dia pois, no mês passado, durante a festinha que havíamos feito para um dos colegas, foi proclamado em alta voz que a próxima festinha era pra mim.

Exatamente naquele dia, o meu superior regional estava na cidade. Uma visita de rotina, uma conversa com a equipe e logo voltaria à capital. Fim do dia, todos para casa, inclusive o chefe. E, claro, eu também.

Ao chegar em casa vou rapidamente desabafar com minha esposa a frustração por ninguém da minha nova equipe haver lembrado do dia do meu aniversário. Poxa, nenhum cartãozinho em PowerPoint? Eu não merecia.

- Ah, faz menos de seis meses que você está aqui. Eles não teriam obrigação de lembrar. Não fica assim... Disse minha mulher.

A parte do “não fica assim”, ela falou com aquele tom de esposa para marido, com um olhar lateral e sorriso maroto. Bom, seria um maravilhoso encerramento para um dia de aniversário e não perdemos tempo. Estávamos na sala de estar e na sala de estar aconteceu tudo...

... até ouvirmos a campainha.

Deixei o meu posto e fui verificar pelas venezianas quem se atrevia a incomodar naquela noite tão especial. Era toda a minha equipe, suas famílias e, de quebra, o meu chefe. Umas 25 pessoas com um monte de salgadinhos e refrigerantes nas mãos, atrás do portão do prédio chamando por mim.

Numa mistura de vergonha e surpresa agradável, gritei “já vou” e começamos a operação “desmancha ambiente”: vesti minha camisa, ela colocou o vestido, colocamos o sofá e a mesa de centro no lugar, enxugamos o suor nas roupas e ligamos a luz. Ops! Minha camisa estava ao avesso... Coloquei do lado correto e enxuguei um pouco mais do suor. Tudo isso em menos de 20 segundos!

Abri a porta com um sorriso meio amarelo e fui caminhando lentamente até o portão. Era um tempinho a mais que minha esposa teria para ajeitar algo. Umas trocas de chave – propositais – no cadeado do portão e mais tempo ganho. Até que eles entram.

Apesar do nosso esforço não deu para disfarçar em nada o que estávamos fazendo havia alguns minutos. O suor era incontrolável pela situação e vergonha naquele momento. Enquanto as mulheres colocavam a mesa, eu tentava fazer de conta que não estava percebendo as risadas contidas. Afinal, quase todos eram casados e conheciam muito bem aquele ambiente. Ainda pairava o cheiro do amor, odor tradicional desses momentos que todo mundo reconhece. O mais engraçado era a carinha de nojo que todos tinham ao apertar minha mão. Isso foi interessante. O resto foi só vergonha.

Na época eu não sabia muito bem se estava feliz ou envergonhado com a surpresa. O que sei é que foi um momento inesquecível, exatamente como devem ser os dias de aniversário. Portanto, hoje não tenho dúvida: estava feliz.

E fica uma dica. Nunca faça uma festa surpresa com alguém sem combinar com a esposa ou esposo.